É possível reconstruir o que não foi construído?

Consultor em Governança Familiar alerta para a necessidade de preservar a entidade “Família” nos negócios

Famílias empresárias muitas vezes dedicam tamanha atenção à gestão, manutenção e crescimento do patrimônio, que provocam custos familiares irreversíveis. São almoços de domingo regados a negócios, abandonando-se a celebração da família em si. Qualquer assunto acaba puxando nova discussão dos negócios desagradando, inclusive, um parente que está ali apenas para curtir a família.

A mistura entre sucessão patrimonial (inexorável e com regras legais) e sucessão na gestão das empresas, embaralhamento entre remuneração pelos trabalhos prestados e sucessão patrimonial formam mais um elemento de desconforto nas relações. É corriqueiro o privilégio ao descendente que está na gestão dos negócios.

Nesse caso, o adequado é que ele seja respeitado e remunerado como um executivo (e bem remunerado), pois em sua posição acaba tornando-se um “empregado” dos demais membros da família e como tal é cobrado a qualquer momento, mesmo nos mais inadequados. Contudo, isso não faz com que ele tenha mais direito do que os demais herdeiros em relação ao patrimônio.

Tudo isso sem falar em um dos mais perniciosos comportamentos, a diferenciação dos herdeiros desde a infância, provocando mágoas profundas e que dificilmente serão dissolvidas. São sentimentos que certamente surgirão quando os alvos desses acontecimentos passarem da condição de irmãos para sócios. O desprezo, a desatenção, o favorecimento deste ou daquele são extremamente nocivos à delicada trama que interliga os elementos de uma família.

Alguns empresários têm como filosofia a “Administração por Conflito”, seja com executivos ou com familiares que trabalham na empresa. O objetivo é tirar o máximo de todos pelo embate, apostando fichas na ideia de que as pessoas funcionam melhor sob pressão. Com o passar do tempo colecionam vitórias e derrotas, como todos nós. Mas, o preço quando se trata de familiares é a deterioração das relações, corroídas pela rotina do enfrentamento.

Enquanto os ventos sopram favoráveis para os negócios da família, esses conflitos ficam abafados, encobertos pelos benefícios da riqueza e dividendos robustos (isso funciona como um Lexotan). Quando o negócio começa a degringolar ou no momento em que alguém manifesta seu desconforto com determinada situação, os ressentimentos aparecem. E não adianta, depois de 20, 30 anos de indiferença, e privilégios querer reconstruir algo que foi desconstruído ao longo do tempo, falta o alicerce!

Não há como um patriarca, no fim da vida, querer reparar todos os erros do passado, fazendo com que os filhos se entendam depois de uma conversa recheada de boas intenções, se o que foi semeado ao longo dos anos foi apenas a discórdia, a competição e o conseqüente desenvolvimento de mágoas e rancores. Essa reversão só acontece nos romances, ou em situações extraordinárias pela ocorrência de fato chocante e de extrema gravidade, onde o universo de cada um e das relações emocionais vira de ponta cabeça.

Na vida real, quando a essência da cizânia foi nutrida por anos, o máximo que se pode conseguir na solução dos conflitos são acordos patrimoniais, recompensas que abrandam os enfrentamentos, mas não recuperam laços familiares sinceros, pois eles foram rompidos, desgastados ou nunca foram semeados.

Vale refletirmos:
. Estamos dando atenção adequada aos negócios e à familia?
. Estamos sendo bem sucedidos nos negócios?
. Estamos dando a transparência necessária aos acionistas e herdeiros?
. Estamos semeando o amor e companheirismo dentro da família?
. Estamos confortáveis com o que estamos construindo, olhando a longo prazo?
Lembre-se: “a Família é o berço de tudo”.

Por Carlos Alberto Gramani (Consultor em Governança Familiar e Family Office. Com redação de Tânia Galluzzi, jornalista)


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